11.4.09

Erechim o Campo Pequeno dos birivas e dos imigrantes vênetos





Erechim, ou mais corretamente Erexim, fazia parte do vasto município de Passo Fundo, um dos maiores do Estado, que ia desde Carazinho até Marcelino Ramos. Seu nome vem da língua dos índios Caingangues que habitavam o local e quer dizer “Campo Pequeno”. Birivas era o nome dado por esses mesmos índios aos estrangeiros, os poucos brancos que conheciam e que habitavam aquelas terras. Até o ano de 1910 Erechim era o 7º Distrito de Passo Fundo e a sede se localizava no povoado de Capo-Erê. A partir desta data passou então a fazer parte do 8º Distrito de Passo Fundo e tinha a sede na Colônia Erechim, hoje município de Getúlio Vargas. A atual cidade de Erechim na época chamada de Paiol Grande era uma densa floresta, quase desabitada, coberta de araucárias e outras árvores centenárias, onde se abrigavam alguns poucos descendentes de antigos bandeirantes, alguns foragidos da justiça, bandoleiros e fugitivos da revolução de 1893. O nome Paiol Grande deveu-se a uma antiga construção, que servia de depósito de erva-mate, localizada nas vizinhanças do atual Desvio Giaretta. A demarcação das terras teve início ainda em 1904 com os trabalhos de abertura e construção da Estrada de Ferro ligando Santa Maria a Marcelino Ramos. O crescimento de Erechim foi muito rápido com a chegada, já a partir de 1918 quando o município foi oficialmente fundado, de uma grande quantidade de italianos, dos quais a grande maioria era composta de vênetos, principalmente provenientes das chamadas “terras velhas”, como Caxias, Bento Gonçalves, Garibaldi, Alfredo Chaves, Guaporé, entre outras. Essas, com a chegada de milhares de imigrantes e em seguida os seus filhos, fizeram com que as primeiras colônias se vissem rapidamente lotadas e logo houve a necessidade de procurar novos locais para se estabelecer. Foi o que aconteceu em Erechim e na atual Região do Alto Uruguai, também conhecidas como as “terras novas”, que receberam os descendentes dos primeiros imigrantes vênetos que chegaram ao Brasil.

Fonte: Arquivos da La Piave FAINORS Federação Vêneta - Erechim RS
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

10.4.09

Os Capitéis – uma antiga tradição de fé da zona rural







Outrora muito comuns por toda a zona rural da região do Vêneto, os capitéis surgiram aqui no Rio Grande do Sul já nos primeiros anos da imigração italiana e vêneta. Foram a expressão da religiosidade dos imigrantes na nova terra. Os capitéis foram a solução encontrada para suprir as necessidades nos primeiros anos na nova terra. Não possuiam recursos para construir uma capela ou uma igreja. Eram pequenos oratórios devocionais construídos à beira da estrada, uma tradição rural dos imigrantes provenientes da Região do Vêneto. No início eram de construção em madeira rústica e mais tarde surgiram também em alvenaria. Geralmente mandados erigir por alguma família, ou conjunto de famílias, e às vezes pela própria comunidade, para agradecer alguma graça recebida ou como proteção de todos. Nos capitéis rezava-se semanalmente o terço, se faziam os tríduos e as novenas, assim como se realizavam as festas do padroeiro. Com o passar dos anos, alguns foram se transformando em capelas que podem ainda ser vistas. Entretanto nos dias de hoje, se bem que não com as mesmas finalidades e significados de antigamente, ainda podemos encontrá-los, sobretudo pela zona rural da imigração italiana e veneta do Rio Grande do Sul, preservados como uma forma de recordação do nosso passado coletivo.

Fonte: Arquivos da La Piave FAINORS Federação Vêneta - Erechim RS
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

8.4.09

Barracão de Val de Buia – o triste início da 4ª Colônia



Após o êxito alcançado com as três primeiras colônias italianas no RS: Conde D´Eu, Dona Isabel e Caxias, o governo provincial da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul passou a criação da Colônia de Silveira Martins, vizinha a cidade de Santa Maria da Boca do Monte, depois conhecida como 4º Colônia. A primeira leva de imigrantes italianos, composta por aproximadamente 100 famílias, chegou a esta colônia por volta da primavera de 1877, ficando hospedados no Barracão de Val de Buia. A chegada dessa primeira leva coincidiu com a saída as pressas dos imigrantes eslavos que os antecederam – russos e poloneses – que abandonavam o local para se dirigir a Porto Alegre com destino ao Paraná. Esses emigrantes não resistiram às precárias condições do barracão e tendo ceifadas muitas vidas, devido várias epidemias, decidiram abandonar definitivamente as instalações. Logo vieram as demais levas de italianos e vênetos provenientes de Porto Alegre, os quais subindo o rio Jacuí, desembarcavam em Rio Pardo e, depois de um sem número de sofrimentos, a pé e em carroças de bois, alcançaram o local onde se encontrava o barracão que os devia hospedar temporariamente em Val de Buia, até a demarcação final dos lotes pela Comissão do Governo Imperial. Devido o moroso trabalho dessa comissão de demarcação e a sempre contínua chegada de novos imigrantes, que compunham as demais levas, o número daquela população rapidamente atingiu a cifra de aproximadamente 1000 pessoas, que era a soma das quatro levas, que esperavam a sua colocação nos lotes a eles destinados. O chamado barracão, que devia hospedar os recém-chegados, nada mais era que um pavilhão de grandes proporções, sem divisórias internas, sem privacidade, construído em madeira bruta lascada, coberto por folhas de palmeira, com muitas frestas nas paredes e chão de terra batida. A promiscuidade, a falta de higiene e a péssima alimentação disponível serviram de combustível que fez eclodir no local uma violenta, rápida e letal epidemia de doença infecto-contagiosa, aproximadamente entre os meses de maio e julho de 1878. Em pouco tempo as mortes já se sucediam num ritmo tão rápido que não dava mais tempo para a confecção de caixões que proporcionasse um enterro digno. Os enterros eram feitos com o corpo envolto em lençóis diretamente na terra. Muitas foram as famílias vênetas atingidas, algumas chegando a perder quase todos os seus membros. Acredita-se, de acordo com historiadores, que tenham morrido no local, em poucas semanas, mais de 300 imigrantes.

Fonte: Arquivos da La Piave FAINORS Federação Vêneta - Erechim RS
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta