1.12.07

Cultura e Língua - Imigração Vêneta no RS

Quando os imigrantes italianos, e os vênetos a grande maioria, chegaram no Rio Grande do Sul, não tinham conhecimento do português, a língua oficial do Brasil. Também pouco conheciam a língua italiana, idioma oficial da Itália. Vivendo em núcleos isolados, criaram por muito tempo verdadeiras colônias estrangeiras dentro RS. Já falamos que os dialetos do norte da Itália que se destacaram, pela predominância de origem desses imigrantes, com presença de 88% do contingente aqui chegados foram os vênetos e os lombardos. Entre os vênetos predominaram os dialetos vicentino, feltrino-bellunese, trevisano e padovano. Entre aqueles lombardos tivemos os dialetos cremose, bergamasco, mantovano e milanese. Muito preocupados em se integrarem à variada comunidade local, nunca pretenderam conservar o dialeto da própria origem. Encontrando-se longe dos centros urbanos, esquecidos pelas autoridades competentes, emarginados socialmente, economicamente e geograficamente, para não morrerem culturalmente, desenvolveram a própria tadição cultural, em especial a religiosa e familiar. Usavam a língua de origem, os dialetos provinciais, propensos a desagregação na medida em que esses vários dialetos entravam em contato entre si. No início a cultura das colônias se concentrava intorno às igrejas ou capitéis, locais de encontro das diversas comunidades nos dias de festas e cerimônias religiosas. Alguns dialetos, por serem numericamente pouco representativos, desapareceram dentro da comunidade. Com o passar do tempo se fundiram os dialetos que não tinham afinidades formando grupos dialetais e aqueles que eram afins se influenciaram reciprocamente se fortalecendo acabando por predominar sobre os demais.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Fonte: Arquivos da La Piave FAINORS Federação Vêneta

O dialeto vêneto sul-riograndense

Ainda falado e compreendido por mais de 1 milhão de pessoas no estado, o talian, ou dialeto vêneto sul-riograndense, é considerado hoje uma língua neo-latina, ao lado do português, espanhol, francês e italiano. Formada pela grande imigração italiana do norte da Itália, sobretudo pela maioria vêneta, que encontrou no Rio Grande do Sul uma nova pátria para viver. Esses pioneiros tiveram as primeiras dificuldades de comunicação linguística já no navio que os levava para o novo mundo. Na sua grande maioria eram analfabetos, ou semi-analfabetos, falavam somente nos seus dialetos regionais de origem, os quais as vezes muito diferentes entre si. Para a formação desta nova língua concorreram muitos fatores. Entre eles: o isolamento quase total, com pouco ou nenhum contacto com a língua portuguesa; a forma misturada como foram assentadas as famílias, sem critérios de proveniência ou modo de falar; a necessidade de contatos entre eles, os quais acarretavam encontros de pessoas com diferentes dialetos; os casamentos entre pessoas que falavam diferentes dialetos regionais; a vizinhança das suas terras e as estradas entre as colônias que favoreciam maiores contatos entre eles; e depois, em outra fase, o comércio de produtos da colônia e o contato com comunidades luso-brasileiras, com a aquisição de novas palavras e modos de dizer, em especial a nomenclatura de coisas e objetos novos (evolução da língua).

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Fonte: Arquivos da La Piave FAINORS Federação Vêneta.

Imigração Vêneta - o homem e o ambiente

Já dizia Émile Zola que "Não se pode separar o homem daquilo que o circunda, pois ele se completa através da sua indumentária, da sua casa, da sua cidade e do seu país. É a descrição do ambiente que determina e completa o homem". O homem só se torna completamente humano quando entra em contato com o mundo exterior.
Colocados no meio da floresta, em regiões longínquas e de difícil acesso, sem estradas e meios de locomoção, isolados da convivência com outros grupos, os imigrantes pioneiros se viram na contingência de fazer com as próprias mãos os seus utensílios e ferramentas de trabalho. Paralelamente foram desenvolvendo as atividades de artesanato, uma de arte que muito ajudou na nova vida, como forma de linguagem e meio através dos qual os recém-chegados transmitiam a sua compreensão da realidade que viviam tendo por base aquilo aprendido e trazido da terra natal. Uma enorme gama de novos materiais, culturas e maneiras de fazer foram aos poucos sendo incorporados à nova vida coletiva. Se na grande maioria eram iletrados, analfabetos ou semi-analfabetos, traziam consigo, de forma latente, inconsciente mesmo, a milenária cultura do povo vêneto, berço de cultura e arte desde o tempo da Sereníssima República de Veneza.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Fonte: Arquivos da La Piave FAINORS Federação Vêneta

Colonização Italiana e Vêneta do RS

O Rio Grande do Sul foi uma terra disputada pelas coroas da Espanha e Portugal e a expansão da sua população teve o seu início com a chegada do século XVIII. Depois de muitos anos de cruentas lutas, a então Província foi delimitada e se deu início a sua colonização de forma sistemática. Assim no ano de 1824 chegaram os alemães e mais tarde, em 1875 as primeiras famílas de italianos. Tendo obtido bons resultados com as colônias alemãs, no ano de 1875 a província recebeu do Império as colônias Dona Isabel (mais tarde denominada de Bento Gonçalves) e Conde D'Eu (depois Garibaldi) destinadas a receberem imigrantes italianos em geral, sendo os vênetos que constituíram a grande maioria. Depois no Rio Grande do Sul foram criadas a Colônia Fundos de Nova Palmira, logo depois rebatizada como Colônia Caxias e a Colônia Silveira Martins. O primeiro grupo de imigrantes italianos chegou no Rio Grande do Sul em 1875 e se estabeleceu na Colônia Nova Palmira, no local chamado Nova Milano (hoje Farroupilha). Neste mesmo ano outros imigrantes italianos em geral e vênetos em particular se estabeleceram nas Colônias Conde D'Eu e Dona Isabel e já em 1877 na Colônia Silveira Martins, vizinho a atual cidade de Santa Maria.
Os imigrantes italianos que vieram para as novas colônias no Rio Grande do Sul proveniam, na sua quase totalidade, do norte da Itália (Vêneto, Lombardia, Trentino Alto Adige, Friuli Venezia Giulia, Piemonte, Emilia Romagna, Toscana, Liguria). Um dado estatístico nos revela que por zona de proveniência temos: Vênetos 54%, Lombardos 33%, Trentinos 7%, Friulanos 4,5% e os demais 1,5%. Como se pode ver os vênetos e os lombardos constituíram 88% dos imigrantes fixados na Província do Rio Grande do Sul. Os imigrantes italianos chamados para substituir mão de obra escrava, com o advento da abolição da escravidão no Brasil, rapidamente, em poucos anos os territórios à eles destinados para colonização, já estavam inteiramente ocupados, obrigando os que chegavam, e atmbém aos filhos dos pioneiros, a procurar novas terras distantes das primeiras colônias. Assim foram surgindo outras colônias, sempre com a predominância numérica dos vênetos: Alfredo Chaves, Nova Prata, Nova bassano, Antônio Prado, Guaporé e mais tarde, Vacaria, Lagoa Vermelha, Cacique Doble, Sananduva e Vale do Rio Uruguai, como Casca, Muçum, Tapejara, Passo Fundo, Getúlio Vargas, Erechim, Severiano de Almeida.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Fonte: Arquivos da La Piave FAINORS Federação Vêneta