18.4.07

O Filò na zona rural do RS


Entre os importantes hábitos sociais cultivados pelos imigrantes vênetos que colonizaram as terras gaúchas, estava o do "filò", que era um encontro fraternal entre os componentes de famílias vizinhas, que tinha início com o cair da noite, após uma jornada dura de trabalho no campo. Era um momento para o relaxamento e descontração, que unia jovens e velhos de ambos os sexos.

Este hábito, que foi trazido da Itália, servia como um momento de ajuda recíproca com a troca de informações pessoais e coletivas, de confidências e conselhos sobre a saúde, o andamento da plantação e das colheitas. Era o espaço em que se podia saber das novidades ocorridas com as famílias vizinhas, tanto as boas como também aquelas tristes.

Este encontro informal ocorria cada vez na casa de um vizinho, sempre nas estrebarias, junto com o gado, que com o seu calor aquecia o ambiente, assim como se fazia por séculos nas terras de origem, deixadas para trás com a emigração.

Cantavam se estavam alegres, jogavam, contavam histórias e ao mesmo tempo faziam pequenos trabalhos manuais, em que todos participavam. As mulheres, enquanto falavam, faziam cestas, bolsas, estas chamadas de "sporte" e chapéus com a palha entrelaçada - la dressa - para uso d família e também para serem vendidos no mercato mais próximo. Nos dias de inverno também faziam trabalhos com a lã, como o tricot ou remendavam as roupas da família. As moças que pretendiam se casar e aquelas já noivas, aproveitavam para fazer o próprio enxoval.

Sempre serviam-se alguma coisa para comer e beber, conforme a estação do ano. Cada família levava alguma coisa que podia e juntos dividiam alegremente.

O filó era também o momento esperado, em que os rapazes e moças travavam conhecimento e começavam furtuítos namoros, início da maioria dos casamentos daquela época.

O filó foi também a maneira encontrada pelas coletividades de imigrantes para, com o estar juntos reunidos, poderem mitigar o sofrimento e as saudades da terra natal, dos parentes e amigos deixados para trás com a radical mudança de vida causada pela emigração. Com esses encontros firmava-se cada vez mais o sentimento de pertencer a uma comunidade e isso criava as condições para a fixação e o enraizamento daqueles imigrantes. Juntamente com a forte e decisiva presença feminina, os filós muito concorreram para o sucesso alcançado pela imigração vêneta e italiana em solo gaúcho.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
La Piave FAINORS Federação Vêneta

7.4.07

Colônias Italianas no RS

Após a bem sucedida experiência de colonização alemã no Rio Grande do Sul, fundada em 1824, o governo imperial brasileiro iniciou um processo semelhante com imigrantes de origem italiana. Assim, em 1875, começaram a chegar, na província de São Pedro do Rio Grande do Sul, as primeiras famílias de imigrantes italianos, sendo que os vênetos constituiram-se no contingente mais numeroso, atingindo no final a percentagem de 54% do total dos italianos desembarcados no Estado.

Nessa época o Rio Grande do Sul ja contava com uma população de aproximadamente 400 mil habitantes e o governo provincial aproveitando a doação de terras, de acordo com a lei imperial de 1848, iniciou uma política imigratória, sendo a primeira província a fundar colônias com fundos próprios, podendo assim administrá-los por conta própria. Em 1875 iniciou a criação de quatro novos núcleos destinados ao assentamento de colonos imigrantes italianos.

Assim foram fundadas as Colônias de Dona Isabel e Conde D' Eu (logo mais conhecidas como Bento Gonçalves e Garibaldi respectivamente), a Colônia Fundos de Nova Palmira (depois rebatizada de Colônia Caxias) e a Colônia Silveira Martins, também conhecida como 4 Colônia, por ter sido o quarto núcleo de colonização italiana a ser criado no RS naquele período.

Breve estas quatro colônias pioneiras deram lugar a dezenas de municípios gaúchos. Temos então:
  1. Colônia Caxias deu origem a Caxias do Sul, Flôres da Cunha, Farroupilha e São Marcos;
  2. Colônia Dona Isabel formou Bento Gonçalves;
  3. Colônia Conde D' Eu originou Garibaldi e Carlos Barbosa;
  4. Colônia Silveira Martins deu origem as cidades de Silveira Martins, Vale Vêneto, Ivorá, Nova Palma, Faxinal do Soturno, São João do Polesine e Santa Maria.

A partir de 1884, uma vez totalmente ocupadas esses quatro núcleos pioneiros, foram sendo criadas outras colônias do outro lado do Rio das Antas e assim surgiram:

1. Colônia Antonio Prado, deu origem ao atual município de mesmo nome;
2. Colônia Alfredo Chaves, deu origem a Veranópolis, Nova Prata, Nova Bassano e Cotiporã;
3. Colônia Guaporé, origem dos municípios de Guaporé, Encantado, Muçum, Serafina Correa e Casca;
4. Colônia Encantado, originou os municípios de Encantado e Nova Brescia.

Aos poucos, essas colônias foram se expandindo cada vez mais, sempre em direção do Rio Uruguai, divisa com Santa Catarina. Foram surgindo novas colonias como: Tapejara, Getúlio Vargas, Erechim, Severiano de Almeida, Sananduva, Paraí, Nova Araçá, Ciríaco, Davi Canabarro, Marau, Anta Gorda, Ilópolis, Putinga, Arvorezinha, Ipê.

Fonte:

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Arquivos da La Piave FAINORS Federação Vêneta
Veneti in Rio Grande do Sul

6.4.07

Imigração Paraná - Colônia S. Felicidade

No final de 1878 teve início a história da Colônia Santa Felicidade, localizada na periferia da cidade de Curitiba, capital do Paraná. Nessa época grupos de italianos, prevalentemente vênetos, começaram a adquirir terrenos de proprietários rurais ali já radicados, dando início a formação desta rica colônia que veio a se transformar no famoso bairro gastronômico da capital paranaense.

Fonte:
Arquivos da La Piave FAINORS Federação Vêneta
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Imigração Paraná - Colônia Dantas

A partir de 1878, aos poucos, os imigrantes italianos, e os vênetos principalmente, foram espontaneamente abandonando as estruturas públicas que a eles estavam designadas, e procuraram se fixar em terras localizadas em torno de Curitiba.

Assim, nasceu a chamada Colônia Dantas, início do rico conhecido bairro italiano de Água Verde, o qual deve o atual nome do ribeirão que nascia e cortava a região, passando pelo bairro Rebouças e desaguando no rio Belem.

Relação de famílias pioneiras da Colônia Dantas, hoje o bairro curitibano da Água Verde:

Alberti, Alessandrini, Andreoli, Andretta, Antonietti, Antonietto,

Baggio, Baglioli, Baptista, Baronti, Barusso, Bassan, Bassani, Basso, Beghetto, Belinari, Belon, Benedetti, Benetello, Berno, Bertoli, Bertollini, Bettega, Bizotto, Bobbato, Bonilaure, Borsato, Bortoletto, Bot, Bozza, Bozzi, Bruneto, Brunetti, Buso, Buzzato,

Cantorida, Cardon, Carnieri, Carraro, Casagrande, Castellano, Cavichiolo, Ceccato, Ceccon, Celli, Ceschin, Cemim, Colleone, Conte, Contogna, Cortadelli, Cortiano, Costa, Costacurta, Cunico,

Dalazuana, Dalcol, De Carli, De Costa, De Cristiani, De Lazzari, De Mio, De Pauli, De Poli, Deconto, Demetrio, Denico, Derosso, Destefani, Dorigo,

Fabris, Foltran, Fontana, Franceschini, Fressatto, Fruet,

Gabardo, Gagno, Giacomazzi, Gianini, Giovannoni, Girardi, Gottardi, Granatto, Grossi, Gusso, Guzzi,

Honorio,

Lanzoni, Lazarini, Lazzari, Lazzarotto, Levorato, Lorenzi,

Magrin, Maito, Maragno, Marchesini, Marchetti, Marchioro, Marcobon, Marcon, Marconi, Marello, Marodin, Marosin, Massolin, Massuci, Mattana, Meller, Melnai, Meneguzzo, Merlin, Micheletto, Moletta, Molinari, Moreschi, Motta,

Nadalin, Nardino, Negrello,

Oerso,

Pacce, Pansolin, Parolin, Pasello, Pellissari, Percegona, Perfetti, Perolla, Piazzetta, Piccoli, Pichette, Pierini, Pierobon, Pinton, Pizzato, Poitevin, Pontello, Pontoni, Postai, Prin,

Razzolin, Rigoni, Rissetti, Romanel, Rossetto,

Salsi, Sandri, Sartori, Scaramuzza, Schiavon, Scotti, Scremin, Scrocaro, Segalla, Senegaglia, Serafin, Solieri, Stevan, Stocco, Stofella,

Tasca, Tedeschi, Tedesco, Thá, Tiepo, Thomaz, Todeschini, Tomazzi, Toniolo, Torquatto, Tortato, Tosin, Trevisan, Turin,

Valente, Valentini, Vardanega, Veltorazzo, Vendrametto, Vendramin, Veronese, Vollatore,

Zagonel, Zanardi, Zanardini, Zadnona, Zanetti, Zaniollo, Zanon, Zardo, Zilli, Zonta.




Fonte:

Arquivos da La Piave FAINORS Federação Vêneta
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Imigração Paraná - Colônia Nova Itália


Morretes foto antiga

Após o fracasso da Colônia Alexandra, ainda o número de imigrantes italianos, e vênetos em particular, continuava a aumentar nas terras do Paraná. Os recém-chegados eram recebidos em Paranaguá e depois levados para os barracões para imigrantes em Morretes, amontoados em grande promiscuidade, sem conforto e em precárias condições higiênicas.

Ali foi criada a Colônia Nova Itália, inaugurada em 22 de Abril de 1877, a qual também teve uma vida curta e muito atribulada, com revoltas e desmandos administrativos que muito caracterizaram a história desta colônia, e também de outras iniciativas colonizadoras similares do período.

O rítmo dos trabalhos, para a colocação definitiva dessa grande massa de imigrantes que chegava, era muito lento e a organização administrativa deixava muito a desejar. Em Janeiro de 1878 ainda se encontravam nos barracões mais de 800 famílias, portanto há aproximadamente 9 meses, na espera do seu lote de terra para trabalhar. No mês de Março do mesmo ano viviam 3000 pessoas nos barracões esperando a sua colocação.

Em um artigo surgido no mês de Março de 1878, no jornal Dezenove de Dezembro se relatava que: "existem mais de trezentos lotes já demarcados, cento e poucos estão ocupados e os restantes tem casas construídas já há seis meses mas, ainda sem teto, quase todas danificadas por estarem expostas ao tempo, por terem sido construídas com péssimo material adquirido a preço esorbitante. Não existe uma estrada para os lotes e os colonos os recusam pois são invadidos pelas águas durante as cheias dos rios ou localizados em terreno muito montanhoso. Os colonos estão quase na miséria, sem roupas, sem casas habitáveis, sem sementes para as suas primeiras plantações. Estão completamente desencorajados, ainda mais que muitos terrenos distribuídos são ruins e pantanosos".



Ainda em Fevereiro as condições sanitárias continuavam muito precárias. Assim, em comunicado ao Ministério a presidência advertia que: "Situada em uma localidade pouco salubre, circundada por terrenos pantanosos e baixos, sujeitos à inundações do Rio Nhundiaquara, muito freqüentes naquela zona, acarretando, como está acontecendo atualmente, febre tifóide, malária e outras enfermidades graves".

Em Março do mesmo ano, proveniente do Rio de Janeiro, chegaram alguns navios e com eles doentes com febre amarela. Já no dia 20 de Março a cidade de Antonina foi atingida por uma epidemia desta terrível doença, que apesar dos esforços para contê-la rapidamente atingiu Morretes e Paranaguá, e a notícia das primeiras mortes.

A Colônia Nova Itália foi bastante atingida pela epidemia de febre amarela e as mortes foram muitas. Porém, outras doenças graves ceifavam a vida dos primeiros imigrantes: anemia por verminoses que atingiam especialmente as crinças, as doenças transmitidas por mosquitos que infestavam aquela zona e por outros parasitos, menos conhecidos, como o bicho-de-pé, que tornavam um inferno a vida daqueles pioneiros.

O descontentamento era geral entre os colonos. Alguns procuravam meios para retornarem a seus países, sem encontrarem muita ajuda. Finalmente no mês de Julho o governo do Paraná resolveu transportar parte dos habitantes da Colônia Nova Itália, para colônias localizadas ao redor de Curitiba, a capital do Estado.

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Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Imigração no Paraná - Colônia Alessandra



A Colônia Alessandra, ou Alexandra, também conhecida pelos imigrantes italianos como "O Purgatório", foi fundada em 10 de Fevereiro de 1872, localizada a aproximadamente 14 km de Paranaguá, cidade litorânea e porto de mar do Estado do Paraná.

O clima muito quente e úmido predominante naquela zona, propiciava o aparecimento de inúmeras doenças tropicais causadas por insetos, as quais muito breve foram motivo de irritação e descontentamento entre os imigrantes com muito sofrimento e mortes.

As desventuras dessa colônia, que chegou a ter um grande número de imigrantes, começaram muito antes da sua fundação, já na escolha do local a ela destinado.

O homem de negócios Savino Tripoti, natural de Teramo, província de Abbruzzo, fugindo da justiça italiana, veio se refugiar na América, primeiramente na Argentina por volta de 1864, foi posteriormente absolvido das acusação que lhe pesavam. Na Argentina, ainda antes de 1870, adquiriu experiência com projetos de colonização tendo chegado a assumir o cargo de diretor a Colônia Emilia, província de Santa Fé e na Colônia Ausonia, esta na província do Chaco.

Em 07 de Junho de 1871 este empresário assinou contrato com o governo imperial brasileiro que previa a chegada de 2.500 imigrantes nos próximos 6 anos.

Tripoti, como tantos outros empresários daquela época que se dedicavam a ganhar rapidamente dinheiro com projetos de colonização, equiparavam os agricultores imigrantes com qualquer outro tipo de mercadoria e pouco distinguiam as necessidades dos homens com aquelas dos animais. Muito sofrimento, desespero e vidas perdidas durante este processo de colonização mal conduzido.

Também o governo imperial brasileiro teve a sua parcela de culpa, na medida que pouco exigia na escolha dos seus contratados, mergulhado em uma burocracia que tornava ineficaz a vigilância do trabalho desses empresários.

A Colônia Alessandra durou até meados de 1877, quando após uma série de acontecimentos trágicos, que se sucederam em rítmo contínuo, apressaram a sua extinção.

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Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta